Posso te dar um beijo?
O tarado se aproximou da garota e tentou criar um vínculo:
- Quer um bombom?
- Não gosto de bombons. Gosto de chiclete.
- Chiclete faz mal para os dentes.
- E bombom faz mal para o meu regime.
- Que regime?
- Eu preciso fazer regime. Tô ficando gorda. Minha mãe diz que se eu quiser ser modelo eu tenho que ser magra.
- Sua mãe é uma tonta.
- Tonto é você.
Ele se arrependeu de ter dito aquilo. Não era uma boa tática xingar a mãe da vítima. Precisava ganhar confiança.
- Tem razão. Sou um tonto mesmo.
- É.
Ele ficou chateado com a sinceridade da menina, mas resolveu se controlar e partir para o ataque de uma vez.
– Posso te dar um beijo? – Ele pediu, dedos cruzados, confiando no seu bom perfume e hálito refrescante.
A menina de 6 anos ficou olhando pra ele de um jeito que não sabia. Por fim falou:
- Pode, mas só um.
O tarado sentiu alguma coisa vibrar dentro dele. O beijo era o começo de tudo. Foi chegando mais perto da menina e sentindo o calor do corpo dela. A pele fresca, o odor infantil. Um mundo de mistérios a ser explorado.
Fechou os olhos e roçou docemente os seus lábios no rosto da menina. Queria guardar pra sempre aquele momento da conquista. Empolgou-se como era de se esperar e agarrou Mirella num abraço forte, de urso. A menina se assustou, tentou desvencilhar-se a todo custo, mãozinhas e perninhas se debatendo contra o perigo.
- Não! Assim não. O que você está fazendo? Você está me machucando, papai!!
A mãe de Mirella chegou logo, cinzeiro na mão, cinzeiro na cabeça do tarado. Naquele dia mesmo se mudou para a casa da mãe levando a menina e três vestidos.
O tarado foi preso por esses dias. E a menina felizmente nunca mais perguntou do pai que, dizem, virou mulher de bandido na cadeia.
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
Minúsculos contos do nosso dia-a-dia
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2 comentários:
Não é venérico não, é?
Sim!
eu era essa garotinha...
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