Todo mundo faz
Parece até provocação. Basta sair de casa e aquela vontade marota o deixa com a pulga atrás da orelha. Será que dá tempo? Será que eu volto? Será que passa?
Alguns minutos e vem a constatação: não tem jeito. Precisa de um banheiro, de um senhor banheiro. Afinal, pensa consigo, o “número dois” merece um lugar especial.
Procura daqui. Procura dali. As pernas já não obedecem. É hora de frear, mas a direita acelera. O suor escorre rosto abaixo.
Por um milagre, acha uma vaga para estacionar. A mão trêmula faz sinal do lado de fora do vidro.
Mal entra no bar, e grita:
- Banheiro?
O chinês que o atende não fala quase nada de português, mas se aproveitando do desespero do pobre coitado impõe:
- Cinco “real”.
Contrariado paga a exorbitante quantia e, tropeçando em seus próprios passos, chega à porta. Constrangido, olha de um lado pro outro, certificando-se inutilmente de que ninguém o observa.
É um rei, prestes a ser coroado. A majestade rumo ao trono.
Com pressa para ser empossado, corre até o vaso, fecha a porta e o alívio vai aos poucos tomando o lugar da agitação.
Sem muito que fazer, lembra-se de uma conversa que teve dias atrás com uns amigos: por que tanto acanhamento numa atividade inerente a todo ser humano?
Todo? É estranho pensar, mas até mesmo a rainha da Inglaterra, com toda sua pompa, tem que fazer. Quer algo mais inconcebível do que a Sandy sentada ali? Moça educada, cheia de “não me reles, não me toques”.
Seus pensamentos são bruscamente interrompidos pelo barulho da torneira aberta. Solta aquela tossidela para encobrir a possível flatulência.
Volta a pensar.
É verdade. Uma coisa tão normal e eu com toda essa vergonha?
Já é hora de mudar isso, começar uma nova visão, desprovida de qualquer preconceito.
Seguro, pronto para quebrar esse paradigma, levanta.
Mas antes de sair, cola o ouvido na porta para certificar-se de que o sujeito que estava ali, já havia saído.
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Conto mais
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4 comentários:
Já dizia Leminski:
"Merda é veneno.
No entanto, não há nada
que seja mais bonito
que uma bela cagada.
Cagam ricos, cagam pobres,
cagam reis e cagam fadas.
Não há merda que se compare
à bosta da pessoa amada."
Ri sozinho lendo esse post. Muito inteligente e interessante. Já passei por esta situação várias vezes ... e quem nunca passou, não é mesmo ?!
Eu tenho um catálogo de banheiros públicos.
O melhor de Ribeirão, pra mim, é o da Mousse Cake (rotatória). Lembra até o da Skol.
Ah, e tem mais. Se neste momento de penúria algum china oportunista negar o uso ao banheiro, ignore. É lei que todo estabelecimento comercial deve disponibilizar um serviço gratuito, ou um orelhão, ou um sanitário.
Quando comecei a ler esse texto, logo já sabia quem tinha escrito.
rsrsrsrsrsrs, eita Sr. Modesto.
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