domingo, 9 de agosto de 2009

O dia em que perdi meu pai

Sempre pensei em escrever sobre a morte de meu pai. Nunca tive coragem até então. Eu queria escrever para homenageá-lo, deixar registrado o quanto o amo, o quanto ele foi importante para mim. Mas faltava força. Eu fujo da dor. Eu tinha 19 anos quando ele se foi. Exatamente metade da minha vida agora. Só depois de 19 anos e no dia dos pais, eu estou conseguindo fazer um texto a respeito. E confesso, eu queria que ficasse bonito, à altura das coisas que ele me ensinou.

Era 22 de novembro de 1990 e só de lembrar me dá um arrepio por todo o corpo. Foi de longe o pior dia da minha vida. Meu pai estava no hospital e talvez tivesse que amputar a perna porque tinha diabetes e uma ferida teimava em não cicatrizar. Acho que a possibilidade da perda o fez desistir da vida. Ele era muito altivo para aceitar aquilo. Não sei se estava certo, mas eu o entendo. Perfeitamente.

Na época, eu trabalhava na Casa do Ventilador e estava em cima do telhado para passar os fios que seriam usados para instalar o ventilador de teto na casa de um cliente nosso. De repente, do nada, senti um mal-estar tremendo. Foi tão estranho... o calor era insuportável, no entanto aquele mal súbito não foi por causa do clima estupidamente quente. Foi porque de algum modo eu pressenti o que estava acontecendo. Era 16h30, a hora exata em que (fiquei sabendo depois) meu pai faleceu.

Desci zonzo do telhado, terminei o trabalho com muito custo e voltei para a empresa. Assim que cheguei, meu chefe disse que minha irmã tinha ligado e pedido para eu não demorar. Não demorar na-da. Não foi preciso dizer mais nenhuma palavra, saí correndo com os olhos embaçados, enquanto rezava.

Quando dobrei a esquina da minha rua, vi um táxi sendo descarregado com as roupas de meu pai. Como doeu! Aquela imagem me estraçalhou. Foi a cena mais triste que já vi. Juro. Se eu tinha alguma esperança de não ter acontecido nada com meu pai, ela tinha acabado ali. A porta do táxi aberta, as calças e camisas sendo entregues... o silêncio. Não quis falar com ninguém. Não precisava. Eu sabia de tudo. Fui direto para o meu quarto e chorei, desabei, chorei, desabei.

Descobri naquele dia que o corpo humano é capaz de produzir, literalmente, um mar de lágrimas.

Feliz Dia dos Pais, Sr. Raul. Te amo absurdo.

17 comentários:

Rafael Nascimento disse...

Parabéns pela coragem, 19 anos, eu demorei a perceber que meu Pai é o meu Super Pai, e depois de ler isso, só reforcei mais ainda o quanto amo ele. Parabéns mesmo

Fernanda Rosa disse...

Não sei se posso chamar de "lindo" algo que nasceu em virtude de uma grande tristeza. O seu texto está ótimo, e queria dizer que também não posso entender a dor que você sentiu nem a saudade que você sente. São coisas que somente você sabe, mais ninguém. Mas espero que toda essa dor seja transformada em amor para seus flhos! Amo o meu pai...e reforço ainda mais o meu amor por ele depois de ver essas experiências dolorosas.
Feliz dia dos Pais a todos os papais deste Blog!

Anônimo disse...

Raul, que bom voce conseguir colocar com tanta sensibilidade seus sentimentos neste texto. É uma homenagem amorosa a seu pai. Tambem perdi meu e sei a dor e percebo sempre o quanto ele continua a me fazer falta.

Matheus Arcaro disse...

É Raul.
O ser humano é capaz de fazer do mais triste o mais belo. É esse texto. Confesso que todo santo dia penso no dia da morte dos meus pais. Como vai ser, como vou encarar, etc. Pode parecer racionalizante, mas é como deve ser; a vida não teria sentido se assim não fosse. Essa crônica, então, serve, no mínimo, para aqueles que ainda tem o privilégio de ter pai e, às vezes, não dão o devido valor.
Parabéns duplo. Pelo texto e, se for possível essa analogia, pelo dia dos pais, pois, de certa forma, você é o pai da sementinha da comunicação implantada em mim no terceiro ano de faculdade.

Abraços, sócio, amigo e "pai".

Gláucia disse...

Parabéns Raul.
Muito importante esse texto em especial a frase "o corpo humano é capaz de produzir, literalmente, um mar de lágrimas" Descobri isso ha 7 anos quando vi meu pai entubado no hospital, segurei a mão dele e disse "pai, estou aqui" como as circunstancias o impediam de falar, as lagrimas escorreram no seu rosto. Foi nosso ultimo dialogo!

Raul Otuzi disse...

Obrigado a todos pelas palavras carinhosas.

Valeu, Rafael, Fernanda, Anônimo, Matheus e Gláucia.

Foi bem difícil conseguir escrever, mas depois que terminei, eu me senti aliviado.
E ler os coments de vocês me fez muito bem.

Abraços,

Raul

Lucas Otuzi disse...

É, confesso que tomei um susto quando estava lendo o blog e me deparei com esse texto. Você sempre foi muito fechado com relação a morte do vovô, imagino o quanto deve ter sido difícil escrever. Eu era muito pequeno, mas lembro de alguns detalhes, acho que o maior deles foi justamente quando você chegou em casa e desabou. Aquela cena vai ficar pra sempre na minha lembrança, foi o meu primeiro contato real com a dor. Todos costumam dizer que que peguei a melhor fase do seu Raul, comigo ele nunca foi tão severo quanto foi contigo, com minha mãe, meus tios. Só lembranças boas, como quando eu sentava no colo dele pra assistir "Os Trapalhões" aos domingos, e nos divertíamos, lembro do sorriso dele, como se estivesse aqui, ao meu lado nesse momento.
Parabéns, de coração!

Marcel Moreira disse...

Parabéns pela coragem Raul. Com 19 anos tive muitas brigas com o meu pai mas aprendi com o tempo que não há dinheiro no mundo que pague a presença dele na minha vida.
Um abração!

Unknown disse...

Existem aqueles que crescem em famílias desfuncionais, e a figura paterna é um tanto borrada.

Em casos assim, é comum contrabandear a sabedoria, a serenidade e a experiência que provém habitualmente de um pai, garimpando-a naqueles que iluminam e tornam mais inspiradora a nossa trajetória.

Por isso, Raul Otuzi também é meu pai postiço, ainda que seja um palmeirense irremediável.

Abraço grande.

Alexandra valim disse...

Pois é meu querido !!!Sei bem o que esta sentindo,pois perdi meu pai dia 17 de outubro de 2009 ainda vai fazer um mês...porem pela saudade parece q faz seculos...E pela dor parece que foi agora neste momento...Era um pai excelente integro,amavel,companheiro e defendia seus filhos a qualquer custo,as vezes penso que queria q ele tivesse sido um pessimo pai talvém assim naum doesse tanto.Bom sei que honrarei o que ele me ensinou,que coisa errada nunca da certo ,que andar na linha sempre vale a pena,que ser honesto,ser Homem ou Mulher com letra maiuscula é uma obrigação e não qualidade.E que acima de tudo devemos sempre respeitar e tratar as pessoas com queremos ser respeitados e tratados,Em fim como posso não sentir falta nem saudade de uma pessoa que me ensinou ser gente,que me ensinou como lidar com meu marido e filhos com muito respeito acima de tudo...Ah como doi a falta q ele me faz...Ah faria td para te-lo novamente aqui e aproveita-lo mais e dizer mais vezes o qnt eu o amo,o qnt ele é importante para mim.Ele sabia ,mais poderia ter dito mais vezes isso a ele.Bjs

Adriana Antonio disse...

São seis meses sem meu pai e a minha dor aumenta a cada dia...só sentimos saudades do que foi bom e isso me conforta as vezes ...mas nunca esquecerei de nossos ultimos dias juntos nos quais nos aproximamos muito mais...nem de sua mão apertando forte a minha numa despedida onde as palavras eram desnecessárias...ultimo dia de sua vida esse sem duvida foi o mais triste da minha...te amo pra sempre

WESCLEY disse...

amigo perdi meu pai agora recente no dia 02.08.10 vitima de avc eu so tenho 19 anos e ele tinha so 48 anos muito novo. eu e ele eramos um puco distante mais uma semana antes de ele parti nos tava super proximos parecia ate uma despedida.ainda to sofrendo muito com isso !!

mais eu digo quem tem seu pai ainda vivo aproveite perdoe ame ele !! por que eu perdoei o meu 2 dia antes de ele morrer !!

sempre te amarei ! ANTONIO ADAUTO DE LIMA

MARIA MARTA DE SOUZA disse...

ontem eu enterrei meu pai. eu não tinha idéia de que isso seria tão difícil. Meu pai era alcoolatra. Sim ele era alcoolatra, e eu nunca consegui fazer ele enxergar que alem disso ele era uma pessoa só, mesmo estando perto da gente. Ele foi um pai mais ou menos, ele não teve pai, e acho que não conseguiu executar a tarefa sem se atrapalhar todo. Ele teve 7 filhas, fora os abortos que minha mae sofreu, na tentativa de dar a ele um filho homem! rsss ironia. Eu sou a filha mais velha hoje com 44 anos, vi ele fazer de tudo.... amar, odiar, espancar, sorrir, expulsar, não aceitar, ser ignorante, ser paciente, ser arrogante, ser (acreditem) piedoso. Todas as minhas irmãs o abandonaram, não o suportavam, eu fiquei... eu o amava, tinha orgulho dele apesar de tudo, sempre o vi como aquele cara do corpo de bombeiros, forte, sem medo. Meus DEUS como doi falar agora. Mas eu fiquei com o encargo dos 30 até a pouco, suportar suas decrescentes loucuras, até que a 2 meses Nao AGUENTEI mais e o deixei. Não atendi suas ligações, não respondi seus apelos de que estava doente, não dei dinheiro quando pediu ( a pensão era pouca ) eu não conseguia mais vê-lo. até ontem........... vi suas maos encolhidas no caixao, seu semblante de quem sofreu um infarto sozinho............ e eu chorei......e eu choro, eu choro, eu sei que ele está melhor do que eu ( pedi a Deus para perdoar qualquer besteiras incompreensivel que ele fez enquanto carne) mas eu estou aqui, e só quero que a dor passe. Nunca falei abertamente que eu apesar de tudo o amava, mas ele do jeito torto acho que sabia, nunca dei um abraço que demorasse mais que alguns segundos, mais nunca esqueci seu aniversario. BOM ACHO QUE é só o que consigo agora dizer. MAS se ele esta me ouvindo.................... PAI EU TE PERDOO....PAI EU AMO VOCE.
MARTINHA.

Anônimo disse...

Perdi meu pai, ao a menos dar um abraço! é triste passar esse dia dos pais, pai tenho 18 anos, e choro com o uma criança sabendo que ele nao vai voltar!

PArabens pelo texto um dos melhores que ja li! E Forças meu amigo!

vanusa disse...

no dia 11 de abril de 2009 perdi meu pai...e no dia 11 de maio de 2009,um mes que tinha perdido o meu pai eu chorav muito incosolada pela sua perda debrusada na mesa de um escritorio onde trabalhava a dez anos naquele momento de desespeiro peguei umas folhas e comesei a escrever sobre o meu pai...em meio tantas lagrimas elas iam caindo e se desfazendo o que eu queria escrever,eu preciso falar do meu querido pai.nao vi quando escrevi entre tantas lagrimas,tristeza e dor 20 folhas,onde pude expressar todo meu agradecimento pelo pai que foi e por tudo que ele representou na minha vida...confesso que esta carta e meu consolo abaixo de deus pq ate hoje eu lei e relei ela. ela tem me dado forças e saber entender a vontade de deus em nossas vidas.embora eu sofri 18 anos da minha vida so de pensar nessa possibilidade de um dia ter que passar por isso.e uma carta linda seria bom registra-la aqui,e eu entendo sua dor raul,pq ate hoje sinto-a,e relembro cada cena como tudo ocorreu desde os piros e primeiros momentos desde a triste noticia dada por minha mae,agente nao acredita,perde o chao,e depois de alguns meses nos sentimos igual uma folha de uma arvore triste,desprotegida desampada sem rumo e sem direçao onde o vento leva pra longe sem rumo algum.ja faz quatro anos parece que ontem..força e confia num deus que tudo pode ele nos da forças.

vanusa disse...

no dia 11 de abril de 2009 perdi meu pai...e no dia 11 de maio de 2009,um mes que tinha perdido o meu pai eu chorav muito incosolada pela sua perda debrusada na mesa de um escritorio onde trabalhava a dez anos naquele momento de desespeiro peguei umas folhas e comesei a escrever sobre o meu pai...em meio tantas lagrimas elas iam caindo e se desfazendo o que eu queria escrever,eu preciso falar do meu querido pai.nao vi quando escrevi entre tantas lagrimas,tristeza e dor 20 folhas,onde pude expressar todo meu agradecimento pelo pai que foi e por tudo que ele representou na minha vida...confesso que esta carta e meu consolo abaixo de deus pq ate hoje eu lei e relei ela. ela tem me dado forças e saber entender a vontade de deus em nossas vidas.embora eu sofri 18 anos da minha vida so de pensar nessa possibilidade de um dia ter que passar por isso.e uma carta linda seria bom registra-la aqui,e eu entendo sua dor raul,pq ate hoje sinto-a,e relembro cada cena como tudo ocorreu desde os piros e primeiros momentos desde a triste noticia dada por minha mae,agente nao acredita,perde o chao,e depois de alguns meses nos sentimos igual uma folha de uma arvore triste,desprotegida desampada sem rumo e sem direçao onde o vento leva pra longe sem rumo algum.ja faz quatro anos parece que ontem..força e confia num deus que tudo pode ele nos da forças.

vanusa disse...

no dia 11 de abril de 2009 perdi meu pai...e no dia 11 de maio de 2009,um mes que tinha perdido o meu pai eu chorav muito incosolada pela sua perda debrusada na mesa de um escritorio onde trabalhava a dez anos naquele momento de desespeiro peguei umas folhas e comesei a escrever sobre o meu pai...em meio tantas lagrimas elas iam caindo e se desfazendo o que eu queria escrever,eu preciso falar do meu querido pai.nao vi quando escrevi entre tantas lagrimas,tristeza e dor 20 folhas,onde pude expressar todo meu agradecimento pelo pai que foi e por tudo que ele representou na minha vida...confesso que esta carta e meu consolo abaixo de deus pq ate hoje eu lei e relei ela. ela tem me dado forças e saber entender a vontade de deus em nossas vidas.embora eu sofri 18 anos da minha vida so de pensar nessa possibilidade de um dia ter que passar por isso.e uma carta linda seria bom registra-la aqui,e eu entendo sua dor raul,pq ate hoje sinto-a,e relembro cada cena como tudo ocorreu desde os piros e primeiros momentos desde a triste noticia dada por minha mae,agente nao acredita,perde o chao,e depois de alguns meses nos sentimos igual uma folha de uma arvore triste,desprotegida desampada sem rumo e sem direçao onde o vento leva pra longe sem rumo algum.ja faz quatro anos parece que ontem..força e confia num deus que tudo pode ele nos da forças.