sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Ei, vamos criar um movimento!!

Agora é assim, virou moda. Toda e qualquer campanha publicitária precisa provocar engajamento, fazer com que as pessoas lutem em torno de uma causa. Acho um tanto quanto exagerado. Lógico que quando a propaganda consegue envolver as pessoas desse modo consegue ser muito mais convincente e memorável. No entanto, não acredito que toda ação de comunicação seja passível de: “galera, iuuuuuurru, vamos criar um movimento.”

Às vezes o que temos que fazer é uma simples troca de coleção. Uma campanha que vai durar 4 dias e pronto. Que tem o objetivo de desovar o estoque do cliente. Como nesse caso, com tão pouco tempo/verba vamos conseguir fazer com que as pessoas se sintam tocadas a espalhar nossa mensagem? Que tenham vontade de compartilhá-la entre seus entes mais queridos?

O que acontece é que nós, publicitários, damos muito mais importância à propaganda do que ela realmente tem. Achamos que as pessoas ficam comentando - nas mesas de bares, em suas conversas de família, em seus encontros amorosos, - a maravilhosa ação de comunicação que criamos em uma rede social. Ou o supercomercial de 30” que inventamos com tanto zelo e capricho.

Não é bem assim. O ser humano só passa pra frente, só viraliza o que é interessante. Ninguém vai entrar em um site ou blog e participar, colaborar, enviar para seus amigos apenas porque há um botão que pede isso. Agora se for algo que claramente lhe dê um vantagem, que tenha a ver com a marca anunciada e que tenha uma boa ideia por trás... aí é uma outra história.

Tenho a impressão de que com esse negócio de ‘engajamento’ a torto e a direito, estamos criando cada vez mais propaganda para publicitários e cada vez menos para gente comum.

7 comentários:

Matheus Arcaro disse...

É mister Raul. Vamos fomentar esse debate com o intuito, claro, de enriquecê-lo.

Concordo que termos como envolvimento, relevância e engajamento viraram carne de vaca.
Mas acredito que estejam falando tanto nisso justamente por uma doença crônica na propagada.

Nós, publicitários, damos sim mais importância à propaganda do que ela realmente tem. Ai está o problema: propaganda. As pessoas estão cansadas de serem interrompidas, Raul. Não aguentam mais! Eu não aguento mais!

Sem dúvida o homem só repassa o que é realmente interessante. Por isso temos que nos empenhar em fazer comunicação cada vez mais distante da 'propaganda'.

@rony_neves disse...

Vcs estão certos, porém até que ponto envolvimento, relevância e engajamento viraram carne de vaca?
Pra todos ou somente para aqueles que estão buscando aperfeiçoamento constante?
Puxando um pouco a sardinha, acredito muito em comunicação real.
Abraços.

Dois Canos fumegantes disse...

Falou tudo Sr. Raul. Eu tenho sentido isso faz um tempo também, onde parece que a propaganda está focada em agradar somente os publicitários. Voltada para prêmios, anuários e cada vez mais distante do consumidor real (trocadalho né!). Muito tem se falado em repensar a propaganda, seus modelos de negócio, etc, mas acredito que prestar atenção no consumidor e parar de olhar pro próprio umbigo já é um grande passo! Saber que nem todos curtem filmes iranianos, livros cult e coisas non sense, mas sim, as coisas simples de cada dia, sem muita complicacao e mais honestidade.

Abracao!!

IN_Soma disse...

Acho que o problema não é o excesso de causas pelas quais se engajar, mas a consistência de quem propõe isso. O público em geral percebe se a marca está realmente envolvida no problema ou se é só mais um “fake” para garimpar cadastros online, vender algum produto, serviço ou coisa do tipo, inclusive prêmios publicitários. Casos falsos como as convocações idiotas para se fazer “xixi no banho”, da F/Nasça, ou um apoio inexistente para a Anistia Internacional, esfomeados da África ou qualquer outra causa não faz sentido se quem está falando não se propor legitimamente a fazer também. Isso é um engajamento fajuto porque quem propõe não tem história e nem bagagem para comover o público, uma falha da agência em direcionar a campanha dessa forma e também do cliente por aprovar uma ação dessa sem absorver isso no dia a dia da empresa, além der uma sacanagem banalizar temas importantes.

Em contraponto podemos listar algumas campanhas de engajamento possível como a Dove (campanha pela real beleza), OMO (se sujar faz bem), Nike (evento mundial 10k) e a brasileira Osklen (com a E-brigade). São ações ligadas ao DNA da marca, sem forçar a barra do cliente ou do público. Assim, com uma estratégia de comunicação consistente e bem dirigida fica fácil traçar ações paralelas de cunho promocional ou relacionamento ligados ao conceito da marca, tais como um cadastro para cursos de beleza (Dove), terapia familiar ou educação de crianças (OMO), vendas de tenis (Nike) ou roupas de algodão orgânico (E-Brigade – Osklen).

MD disse...

Muito bom texto.
Vou fazer um movimento para lhe eleger publicitáiro do ano ! :-)
Um abraço !

Unknown disse...

É fato que a maioria dos Brasileiros não lê a Piauí, não usa os tenis do Marc Ecko, não ouve Acid Jazz nem viaja para Puerto Madero. Por isso, estas campanhas saem das agências com ar tão europeu e tão pouco comunicativas.

O velho embate está no ar: #pertinência X #temmmdemmmcia

Raul Otuzi disse...

Pois é, pessoal. Acho que muito desse papo de engajar vale só promover a agência como cool, para montar um 'case', e depois mostrá-lo em festival para publicitário ver.

Abração!