2008: política ou politicagem?
Inspirado pela teoria de quinta do Raul nas vésperas das eleições e navegando pelo mar da crise política, resolvi propor uma reflexão sobre a origem e a essência da POLÍTICA.
A palavra política é de origem grega, oriunda de polis.
Polis, a cidade-estado grega, surge por volta do século VI a.C rompendo com a tradição aristocrata vigente até então. Cidade esta não como conjunto de edifícios, ruas e praças, mas sim como espaço cívico, uma comunidade organizada, formada pelos cidadãos (politikós) pertencentes ao sistema de normas racionais.
O surgimento da polis é um elemento profundamente original na história das civilizações e fundamental para a origem da própria filosofia.
Com a polis, estabelece-se a distinção entre esfera pública e privada. A existência humana passa a ser concebida numa dimensão partilhada (eu existo como homem público, em prol do bem comum). As decisões passam a ser tomadas em processos abertos, em debates na ágora. A palavra passa a ser fundamental e cria-se um profundo vínculo entre logos (razão) e política.
Os gregos antigos tratam a política como um valor e não como um simples fato, considerando a existência política como finalidade superior da vida humana.
Aristóteles, que viveu nesse contexto, define o homem como um animal político. “Fora da polis, ou o homem é uma besta ou um deus.” A importância da reflexão política é tamanha na filosofia aristotélica que ele critica textualmente o direito à cidadania aos que trabalham; notadamente em trabalhos manuais. Segundo ele, quem necessita trabalhar para sobreviver está fadado a uma existência mecânica, incapaz, portanto de refletir acerca de um tema tão relevante.
Para Platão, a cidade ideal é governada por filósofos que têm como interesse o bem geral da polis e estes não seriam remunerados por isso. Antagonicamente, a cidade injusta, é aquela na qual o governo está nas mãos dos proprietários, que lutam por interesses econômicos particulares. (Alguma relação com política contemporânea?)
Ao longo da história há inúmeros autores e fatos que contribuíram para a formação do pensamento político. No século XIV, contemplamos Maquiavel, que em sua célebre obra, O príncipe, desmistifica a teologia política de sua época e inaugura o pensamento político moderno. No século XVIII a Revolução Francesa confronta as forças do regime Absolutista e estabelece a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão como síntese das aspirações racionais contra as formas tradicionais de autoridade e referência para Constituições de vários países. Mais tarde, Karl Marx critica a economia política e a cria o socialismo (que inclusive seria implantado equivocadamente na Rússia a partir de 1917).
Imbuídos de um sentimento de cidadania (no sentido grego da palavra) e orientados por grandes pensadores, podemos revolucionar o panorama político, a começar, combatendo essa politicagem: demagogia, propostas vazias, pobreza de debates de idéias, ataques pessoais e, principalmente, o analfabetismo político.
A tenda do circo midiático está armada. E nós, eleitores, estamos no centro do picadeiro. Até quando?
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Filosofia de segunda
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3 comentários:
Interessante essa leitura que Aristóteles faz do trabalho. Se pararmos pra pensar, vamos chegar a conclusão que nunca paramos pra pensar.
Existência mecânica de fato!
Mas que outra saída temos nessa imediatista e de resultados?
no post acima, faltou a palavra "sociedade" depois de "nessa"
Só vejo solução em uma citação, também grega:
"Educai nossas crianças para que não seja necessário punir nossos adultos"
Um povo sem base argumentativa vira "massa" na mão de quem tiver e retiver o conhecimento.
Mas discordo um pouco sobre o postulado de Aristóteles.
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