segunda-feira, 14 de junho de 2010

As vísceras da vida

Inspirado pelo post do Raul, lembrei-me de um poema que fiz à memória de um dos poetas mais escuros e geniais do Brasil, Augusto dos Anjos:

As moscas circundam
A luz amarela-meningite
Como as baratas sobrevoam
Os pensamentos pútridos da serpente.
As entranhas da grávida estão pretas,
Os gestos do padre, imundos.

O jantar, damas e cavalheiros:
Merda à moda com pústulas amanhecidas.

Digestão em andamento,
Bílis, desejos ao vento,
Confio meu amor próprio
A bigatos bígamos.
Devolvem-me apressados,
Está gangrenado,
Com a data de validade vencida!
No formol o mergulho,
Como se em julho,
Ao adubarmos a terra,
Florescessem margaridas.

Meu coração,
Enferrujado pelo mofo do olhar alheio,
Cospe fel às artérias do mundo.
Meu cérebro,
Destronado pelo baço,
De braços dados com a oração escarrada,
Assiste passivamente
À vida sangrando pelas juntas.

Autopsiando o passado,
Vislumbro meu futuro:
Sentir-me-ei humano
Até que os vermes se aconcheguem na minha carne,
Beijando diariamente a boca necrosada da esperança.

Um comentário:

Anônimo disse...

Menino Matheus,

certa vez quis imprimir um pouco de ousadia em um trabalho que apresentei. meus colegas, esbravejaram , me criticaram e não permitiram que eu falasse alguns palavrões (até leves) e usasse gestos que pdoeriam ser até ofensivos aos sensíveis. No momento de apresentar me rebelei e fiz o que havia planejado. meus colegas torceram o nariz diante de sua impotência de nada poder fazer. Foi um sucesso e fomos elogiados por isso.
Parabéns pela sua homenagem à Augusto, um dos mais ousados e rebeldes das letras. Viva "la revolucion".

Abraço,