segunda-feira, 27 de abril de 2009

Filosofia de segunda

Mas, o que é isso?

Ás vezes, discutindo determinado assunto, nos surpreendemos ao fazermos a nós mesmos a pergunta: mas o que, de fato, é isso? Sobre o que estamos conversando há horas?
Perguntas como essas inquietavam Platão cinco séculos antes de Cristo. Atentando-se a isso, ele viu a necessidade da DEFINIÇÃO. Temos em Platão a primeira tentativa de sistematizar uma Teoria do Conhecimento.

Sempre que perguntamos “o que é” estamos em busca da definição daquele algo.
Surge, então, a necessidade da definição de definição. Eis: tornar claras as propriedades essenciais do conceito (representação intelectual); falar o que a coisa é, evitando que esta seja confundida com outra.
Pela atividade filosófica, pela reflexão, é possível passar-se do plano conceitual à definição.

Em seu diálogo intitulado Menon, Platão (através do personagem Sócrates), indaga o jovem que dá nome à obra sobre o que seria a virtude. Primeiramente, Menon dá exemplos, classifica atos virtuosos.
A classificação pressupõe uma clareza anterior dos conceitos, pressupõe conhecimento. Quem classifica já sabe o que é; o que deve ser explicado está contido na explicação.
Insatisfeito, Platão faz a pergunta novamente e Menon responde: virtude é “administrar justamente”. Ele não classifica, mas também não define. A justiça é uma virtude e não a virtude. A definição tem que alcançar a generalidade. Essa é particular, não serve.
Em seguida Menon define: virtude é o desejo de coisas belas e a capacidade de alcançá-las. Agora, o jovem comete um erro ainda maior: multiplica o número de entidades. Sob esse aspecto, para sabermos o que é a virtude, precisaríamos saber o que é a vontade, o belo, a possibilidade de alcançar isso, etc. Ele utiliza termos que ainda não definiu.

No diálogo Teeteto, Platão, depois de um árduo percurso, define conhecimento.
Conhecimento é opinião verdadeira justificada. Ora, todo saber nasce de uma crença, que pode ser verdadeira ou falsa. Com o crivo da razão, descarta-se a opinião falsa. Mas isso não basta. É preciso fundamentar essa opinião verdadeira com uma explicação racional. Chega- se a opinião verdadeira justificada, a definição clássica de conhecimento que perdura até os dias de hoje.
No entanto, o próprio autor, ao final do texto, nos alerta quanto à insuficiência dessa definição, já que para justificar algo racionalmente, necessariamente devemos conhecer o que está sendo definido. Só justifica quem possui conhecimento. Logo, o conhecimento não pode estar presente na definição. Cria-se assim um raciocínio circular (ou tautológico) do qual não se pode sair.

Mais tarde, em sua obra Carta VII, Platão apresenta as etapas para o conhecimento:
1- Nomear: dar nome as coisas que são sentidas.
2- Definir: uso das palavras para tornar claras as propriedades do conceito.
3- Imagem: representação da coisa em si (conhecimento icônico).
A “mistura” desses 3 itens entre si eleva o homem ao quarto nível, o conhecimento propriamente dito. Este, por sua vez, ao grau máximo, o Ser.

Como explicar o Erro?
O erro dar-se-ia quando o contato entre os 3 elementos não for apropriado. Se o “atrito” entre nome, definição e imagem não for adequado, a faísca do conhecimento não se acende.

Bem, obviamente cada filósofo traz à tona suas definições dentro do seu contexto e tendo em vista o abalizamento de seu sistema filosófico. Como exemplo, duas definições de justiça:
1- Cada um dedicando-se àquilo que é prescrito por sua natureza;
2- Dar a cada um aquilo que é de direito.
Dá no mesmo termos duas definições ou nenhuma, já que ainda fica a pergunta: o que é justiça, então?

Longe de querer esgotar o assunto, espero que essas inquietações filosóficas, no mínimo, façam vocês refletirem sobre o que conversam, sobre o que escrevem e sobre os termos empregados para isso. Espero ainda que essas reflexões acendam a faísca da filosofia e vontade de responder a perguntas cruciais tais como: o que é a beleza, o que é o bem e, principalmente, o que é a vida.

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