segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Filosofia de segunda

A existência de Deus

Semana passada, ao colocar o conhecimento de Deus em xeque, recebi algumas críticas. Deixo claro que a intenção é simplesmente suscitar a reflexão. Não necessariamente eu compartilho com o que está no texto. Aliás, ser imparcial tem sido uma premissa nos escritos.

Hoje trago o outro lado da moeda: a existência de Deus e suas provas.
Em um extremo há os que descredencializam a “razão” em relação aos assuntos divinos. Raciocínio e fé seriam “departamentos” totalmente independentes. Isso fica evidente em uma passagem do filósofo francês Maupertuis (1698-1759): “O âmbito religioso nada tem a ver com o científico. A religião nada tem em comum com as outras partes do saber. Ela não se baseia nem nos princípios da matemática, nem nos da filosofia: seus ensinamentos são de uma ordem que não tem nenhum vínculo com alguma outra ordem de nossas idéias, e que constituem em nosso espírito uma ciência inteiramente à parte, da qual não se saberia dizer se está em acordo ou em contradição com as outras ciências do homem.”

Na outra ponta, os que defendem a investigação racional da religião (inclusive teólogos canonizados pela Igreja Católica, como Santo Agustinho e São Tomás de Aquino). Estes tentaram provar racionalmente a existência de Deus. O francês do período Iluminista Diderot (1713-1784) desafiou tais teses: “Se a religião que me anuncias é verdadeira, sua verdade pode ser posta em evidência e pode ser demonstrada com argumentos irrefutáveis”

Provar a existência de Deus (ou dos deuses) foi recorrente na filosofia, principalmente na medievalidade. Eis algumas das conclusões (sucintamente):

1- Inteligência ordenadora do mundo.
O mundo, com toda a sua complexidade, não poderia existir sem um Ordenador Divino.Platão, em sua obra Fílon afirma: “Se virmos uma casa construída com cuidado, teremos uma idéia do artista. Não diremos que foi feita sem um artesão. E o mesmo diremos de uma cidade, de um navio ou de um objeto qualquer. Do mesmo modo, aquele que entrou nesse mundo e viu o céu, os planetas e as estrelas...esse homem concluirá que tudo isso não foi feito sem uma arte perfeita e que o artífice desse universo foi e é Deus.”

2- Causa
Essa prova, introduzida por Aristóteles, foi retomada séculos mais tarde por Tomás de Aquino. Afirma: é impossível remontar ao infinito na série de causas. E como tudo o que acontece tem uma causa, tem que haver um princípio não causado: Deus.

3- Movimento
Similar a precedente. Foi mencionada pela primeira vez por Platão. Na filosofia Medieval foi rediscutida por Adelardo de Bath no século XI e Tomás de Aquino no século XIII:Tudo o que se move é movido por outra coisa. Ora, se aquilo pelo qual é movido por sua vez se move é preciso que também ele seja movido por outra coisa. Mas não é possível continuar ao infinito; senão não haveria um primeiro motor e nem mesmo os outros motores moveriam, assim como o bastão não se move se não for movido pela mão. Portanto, é preciso chegar a um primeiro motor que não seja movido por nenhum outro.

4- Graus
Não poderia haver “melhor” sem um parâmetro de perfeição. Os próprios graus de perfeição presentes na natureza nos levam ao conceito de perfeição absoluta. Anselmo, filósofo da Idade Média, nos lega: “Se não se pode negar que algumas naturezas são melhores do que outras, a razão nos convence que há uma tão excelente que nenhuma outra haverá que lhe seja superior. De fato, se essa distinção de graus prosseguisse ao infinito, de modo que não houvesse um grau superior a todos, a razão seria levada a admitir que o número dessas naturezas é infinita. Mas como isso é considerado absurdo, deve haver necessariamente uma natureza superior, que não possa ser subordinada a nenhuma outra.”

5- A existência é uma perfeição
Descartes, no século XVII, afirma: a existência de Deus está implícita no conceito de Deus, do mesmo modo que está implícito no conceito de triângulo que seus ângulos internos são iguais a dois ângulos retos. A existência é uma perfeição. Deus tem que ter todas as perfeições. Portanto Deus existe.

6- Presença da idéia de Deus no homem
É impossível explicar essa presença de outro modo que não pela produção do próprio Deus, que por isso, deve ser considerado existente. Descartes afirma: “a causa deve ter , ao menos, tanta realidade quanto o efeito. Eu poderia ser a causa da idéia dos corpos, do céu, enfim, de tudo, exceto a idéia de Deus (substância infinita) ao passo que eu sou finito. Portanto deve haver uma substancia infinita sumamente inteligente e potente como causa da idéia que dela tenho.”

Segundo Pascal (1623-1662) não se pode adiar o problema de Deus e permanecer neutro diante de suas soluções. O homem deve escolher entre viver como se Deus existisse ou viver como se Ele não existisse. Se a razão não pode ajudá-lo nessa escolha, que ele considere qual é a escolha mais conveniente como se estivesse diante de uma mesa de jogo. Eis a famosa aposta do pensador francês que retrata bem as nossas possibilidades:

Se Deus existe e a Sagrada Escritura é verdadeira, sua crença vai dar-lhe infinita felicidade após a morte. Se Deus não existe, tudo o que você tem a perder acreditando n' Ele são os prazeres finitos de uma vida finita.

A roleta está girando, senhoras e senhores.

4 comentários:

Gabe Manzo disse...

Cara, se a intenção era mesmo ser imparcial, vc deveria ter citado também teorias dos filósofos que eram ateus, e que pela razão lançaram hipóteses de que deuses não passam de imaginação. Um exemplo é o Epicuro.. procura por ele, e acrescenta aí! Outro bastante reconhecido por todos é o Sartre..
Um outro ponto é seu penúltimo parágrafo, no qual vc deixa transparecer sua não-imparcialidade, pois fica claro que tende para o lado da mais possível existência de deus do que não existência, quando diz que se deus existe, seremos felizes após a morte, e se ele não existe, temos algo a perder. Posso estar errada, mas como crítica, foi o que analisei! =)

Matheus Arcaro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Matheus Arcaro disse...

Gabriela,aprecio sua participação.

Em primeiro lugar, esse texto é parcial se analisado sozinho. Mas, na semana anterior, postei um sobre as possibilidades de Deus conhecer. Por isso, neste, abordei os filósofos que enpreenderam em provar a sua existência. Belas referências você nos trouxe, como Epicuro, que afirmava "sobre os deuses, nada posso dizer" e o existencialista Sartre. Mas, não é possível, num único artigo fazer a varredura da história da Filosofia. Senão teria que citar desde os sofistas, passando por Nietzsche e Heidegger

Quanto ao penúltimo parágrafo, são palavras de Pascal e não minhas.

Obrigado.

Matheus Arcaro disse...

* EMPREENDERAM