quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A propaganda tinha que ser mais científica

Tenho pensado muito a respeito. Por não ter a ciência para a apoiá-la (principalmente no quesito 'criação publicitária'), a propaganda fica a mercê dos achismos, dos gostos pessoais do cliente, de opiniões esdrúxulas.

- Olha, eu acho isso.
- Eu enxergo de outro jeito.
- Essa é a minha opinião! E pronto!!

Afe!

Por conta do lado artístico e imprevisível da propaganda, os publicitários acabam desrespeitados, fragilizados.

A todo o momento, ouvimos de clientes:

- Quem garante que esse slogan vai dar resultado?
- Esse título é melhor mesmo?
- Como dá pra ter certeza de que essa foto é a mais adequada para trazer o cliente para a minha loja?

Certeza?? Faltam argumentos concretos. Faltam dados. Falta ciência.

Certeza absoluta ninguém tem de nada, meu caro. Sabia não? Tem um trecho do livro O MUNDO ASSOMBRADO PELOS DEMÔNIOS, de Carl Sagan, que considero perfeito para ilustrar tal preceito:

Estaremos sempre atolados no erro. O máximo que cada geração pode esperar é reduzir um pouco as margens dele e ampliar o corpo de dados a que elas se aplicam. A margem de erro é uma auto-avaliação visível e disseminada da confiabilidade de nosso conhecimento. Vêem-se frequentemente margens de erro nas pesquisas de opinião pública (“uma incerteza de mais ou menos 3%”, por exemplo). Imaginem uma sociedade em cada discurso nas Atas do Congresso, cada comercial de televisão, cada sermão tivesse uma margem de erro anexa ou equivalente.

Bem, depois desse texto, não tenho mais nada a declarar. Apenas desejar: ciência, ciência.

10 comentários:

Raphael Dib disse...

Acredito que a propaganda é uma ciência sim, porém não no sentido usual da palavra, mas sim no empírico. Temos na origem latina "scientia" (conhecimento), posto que teoricamente (e muito ,visto algumas propagandas que se vê por aí) é necessário conhecimento para se propagar algo, conhecimento este tanto dos seus objetivos na ação em si. Como fazer, Porque fazer. Conhecimento mais uma vez fundamentado na pesquisa, outro fator extremamente importante na propaganda.
Ciência, Pesquisa, Conhecimento Empírico, Propaganda.

Podemos trazer o publicitário como cientista, mas isso já é (quase) outra história...

Cebola disse...

propaganda é arte. publicitário que gosta de ciência é mídia, é chato!!!!!

Marcelo Santos disse...

Às vezes as pessoas levam a propaganda muito a sério.

Deixa rolar...

Téo disse...

Ué, Marcelo, e não é sério? Estamos falando da nossa profissão e de um monte de investimento em comunicação... isso não é sério????

@rony_neves disse...

Que ótimo que propaganda não é ciência.
Discordo do Raulzão, hehe.
Se não fossem as incertezas, não ficaríamos remoendo a cuca para ter outras ideias melhores. Simplesmente a primeira que, de experiências anteriores, garantisse o mínimo de resultado satisfatório, seria a aprovada, por nós mesmos.

Cebola, propaganda não é só arte. Também é resultado. Porém, o que tenho visto é um monte de publicitário bundão, que muitas vezes não peita o cliente na hora de defender a ideia mais criativa/ousada. Outros sequer tentam ousar.
E depois colocamos toda a culpa nos clientes chatos e turrões.

Anônimo disse...

Boa Rony.

A cientificidade é uma grande inimiga da criatividade.

Se já tem comunicação bunda mole com as incertezas, imagine com regras, tabelas e fórmulas.

Pára Raul.

Fernanda Rosa disse...

Eu gosto da arte porque ela não é exata. Porque com ela posso bolar meus próprios resultados...e isso tudo depende simplesmente da minha força de vontade, da criatividade, do quão triste ou feliz estou no dia. Se tivéssemos a arte como algo "lógico", assim como a matemática....aff...já me imagino um robozinho e assim a população inteira. Convenhamos que se fosse ciência, se fosse lógica...não! eu não teria a minha liberdade de expressão. Eu não teria meus improvisos nas peças teatrais...e um erro seria fatal. Puff...PÁRA! Nem quero pensar.

Matheus Arcaro disse...

Certa feita perguntei a uma jovem pedagoga recém formada: Você permitiria que o seu filho tivesse aula com você? Ela hesitou.

Essa reflexão cabe-nos: será que não usamos muletas para a nossa falta de criatividade?

Façamos um exercício hipotético: se eliminássemos verba curta, cliente chato, prazo, resultado, etc. Seríamos os caras da idéia fudida? Daquela que nos orgulharíamos de contar aos nossos filhos?

Pensemos nisso.

Unknown disse...

Propaganda é negócio. A geração dos anos 80 que achava que estava fazendo arte, morreu abraçada aos seus pincéis e bolômetros.

O fato é que a maioria das pessoas não entende que a propaganda alicerçada em metodologia, pesquisa, elaborada com base em algumas premissas indispensáveis, não tem nada a ver com uma propaganda sem apelo estético e criativa.

Existe sempre o raciocínio fechado e reativo: Criatividade é libertinagem, é um bebop jazz.
Criativade em propaganda é a imaginação com paredes, sempre.

A Crispin Porter está entre as agências mais criativas do mundo, e não faz nada sem metodologia científica. Sociólogos e Especialistas em epistemologia estão no quadro estratégico da agência.

Portanto, achar que uma coisa contrapõe a outra é equivocado, penso eu.

Unknown disse...

Pensemos no simples: atendimentos adoram questionar o que não conhecem. Se ele ou o cliente tendem a não gostar de azul royal, ele vai mandar um blá-blá-blá pra cima do diretor de arte, tentando convence-lo de que o azul royal não cabe na proposta desta campanha.

Aí você encerra a conversa em 20 palavras, já que estudou a psicodinâmica das cores (mesmo que porcamente), e defende a escolha daquele azul embasado em um conceito que só serviu para manter a sua idéia original.

A "Ciência" que o Raul colocou não vai muito além disso. Ela serve para direcionar e embasar a criação, não o contrário.