segunda-feira, 20 de julho de 2009

Filosofia de segunda

Filosofia X Verdade

Na maioria das vezes que ouvimos falar de Filosofia, de uma forma ou de outra, a associamos a busca pela Verdade, com V maiúsculo. A obcecada caça ao Ser, à essência última das coisas.O instrumento para alcançar essa suposta realidade só poderia ser a razão. Através desta, cria-se uma teoria e nasce um problema filosófico (filosofema). Entretanto, vale ressalta que geralmente um filosofema é gestado pelo próprio filósofo que o tenta desvendar.

Olhando para trás, então, a filosofia do último século propôs-se a um auto-questionamento, colocando em xeque a própria filosofia. Mais que isso: a filosofia começou a investigar a legitimidade dos filosofemas, investigar se existem, de fato, problemas genuínos.
Um grande exemplo é o inglês Gilbert Ryle (1900-1976). Ryle foi um grande crítico do dualismo cartesiano (divisão e relação corpo-mente) e afirmava que a história da filosofia poderia ser um grande mal entendido.

No entanto, a filosofia contemporânea, ao questionar os problemas e, principalmente, o dogmatismo da “tradição filosófica” é tão dogmática quanto ela, pois também almeja uma resposta conclusiva; também tenta imprimir um conhecimento definitivo do seu objeto.

Nesse conflituoso cenário emerge a importância do ceticismo.
Atualmente, o termo cético é usado vulgarmente para expressar aquele que não acredita em nada. Em termos filosófcos, relaciona se o ceticismo à impossibilidade de conhecimento.
Mas o ceticismo pirrônico, oriundo na Grécia Antiga, jamais postulou tais teorias.
Os céticos combatiam as doutrinas filosóficas que pretendiam estabelecer a verdade, a essência das coisas. Combatiam toda manifestação dogmática. Então, se o ceticismo afirmasse a impossibilidade do conhecimento, estaria sendo tão dogmático quanto à “tradição”, pois ao afirmar ou negar, faz-se um juízo, logo há um dogma.

Segundo Sexto Empírico (século II), num debate, em teorias antagônicas ou conflitantes, não podemos legitimar nem um lado nem outro. O cético é aquele que examina racionalmente, investiga constantemente os conceitos, sem a pretensão de chegar a uma conclusão. Posto um argumento, há a possibilidade de outro antagônico com a mesma força persuasiva. O próprio cético perante um argumento mais fraco pode e deve (aos moldes dogmáticos) construir argumentos opostos para que ambos sejam eqüipotentes, portanto indecidíveis.

A indecidibilidade perante os raciocínios leva o cético suspender seu juízo. Com isso, ele garante a tranqüilidade da alma (ataraxia), já que a busca pela verdade é perturbadora. Ciente da impossibilidade da verdade, ao contrário do que possa parecer, o cético não “cruza os braços”. Ele é um investigador constante com seu conteúdo de pesquisa sempre renovado.

O que se evidencia necessário, pois, é a substituição do Logos pelas impressões do mundo fenomênico, sensível (para os céticos o Logos é um grande enganador; Sexto Empírico chega a comparar algumas filosofias a discursos míticos, oníricos). Fazendo uso de uma linguagem comum, ordinária, é possível discutir questões, discordar ou concordar. Então, são levantadas hipóteses, sem a pretensão de uma resposta verdadeira ou falsa. No máximo, o que existe são respostas mais ou menos apropriadas.

Um comentário:

Renata Galvani disse...

Olá, Matheus!
A leitura dessa Filosofia de Segunda me lembrou Raul quando dizia “... é chato chegar a um objetivo num instante/ Eu quero viver nessa metamorfose ambulante”, ou seja, embora a busca pela verdade seja perturbadora, como você colocou, nos dá a liberdade de metamorfosear qualitativamente, ter o direito de ‘erros’ e ‘acertos’ pautatos pelo tempo, espaço, valores históricos... e escrever assim, nossa própria história.
O ser humano está em constante formação e problematizações inteligentes fazem com que, na caminhada pela resposta, seus horizontes se abram. Concordo que o ceticismo descrito, não tem a simples função de descrença e sim de estímulo para futuras descobertas.
Acredito que também tenha sido neste sentido a afirmação de Sócrates ao dizer: “sábio é aquele que conhece os limites de própria ignorância”, pois estará sempre aberto a novas leituras de mundo, novas idéias, pontos de vista diversificados e, nesse sentido, mais uma vez tenho que agradecer a oportunidade da leitura instigante que você provoca.

Parabéns, Mocinho!!!