sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Inteligência decadente?

Alguns pensadores (inclusive contemporâneos) defendem a hipótese de que a expressividade da existência humana teve seu ápice na Grécia antiga, especificamente na Grécia pré-clássica. Expressividade entenda-se manifestação artística e intelectual.
De lá para cá, a humanidade vem descendo a ladeira.

Faz sentido. Se pensarmos que na Grécia Arcaica os versos homéricos eram cantados a todos, eram cultura popular e hoje só são lidos por catedráticos, dentro das universidadades.

Eles escutavam as histórias de Aquiles e Ulisses. Nós, assistimos novela e ouvimos pagode.

5 comentários:

IN_Soma disse...

Sem crise. Se lembrarmos que Vando e Sidney Magal era coisa brega nos anos 80 e agora é material "cult", daqui uns 200 anos novela será dramaturgia clássica e música popular objeto de estudo altamente erudito. Tudo questão de tempo.

Matheus Arcaro disse...

Grande Fábio.

É bom vê-lo de volta aos comentários do blog. Fico feliz com a possibilidade de travar discussões de alto nível.

Desta vez vou ter que discordar veementemente da sua posição. As obras homéricas, tanto do ponto de vista formal (literário), como do ponto de vista da análise de mundo (filosófico) são de uma riqueza imensurável e se perpetuaram justamente por isso.
É espantoso vermos mais de 500 versos hexâmetros (verso heróico composto por seis pés) que meditam sobre a existência humana. E mais: sem pedantismo; num fruir totalmente estético.

Muitas obras medievais não fincaram raízes por sua qualidade duvidosa. Assim não creio que novelas com diálogos pobres, personagens rasos e estereotipados chegarão a posteridade.

FERAsmar disse...

Vixe, cabeça demais pra minha humilde intelectualidade rsrsrsrs

Renata Galvani disse...

Oi, Má!!!

Puxa, você usou duas palavras que acredito fazer uma diferença gritante nessa ‘decadência’ colocada. São elas: cantados e lidos.
Posso estar enganada, mas acho que naquela época, a habilidade de construção da imagem em pensamento não era tão estimulada como hoje e, principalmente, com os objetivos sociais contemporâneos. Não era falta de inteligência, mas talvez eles tivessem um leque de opções muito mais abrangente e rico dessa construção de imagens mentais.
Penso que pelo fato de vivermos em uma sociedade imagética, com conteúdos atropelados, focados no capital, em prazer mensurável e imediatista, estamos perdendo a capacidade de parar para ouvir, prestar atenção na própria mensagem do que escutamos, questionar o tipo de cultura que estamos construindo como reflexo de nossa geração e analisar conseqüências.
Não lemos livros justamente porque é mais fácil ver filmes, documentários ou algo que já tenha a imagem pronta e acabada; o que não deixa de ser leitura (geralmente empobrecida).
Quanto à música... preciso falar da imagem que vem junto com um funk e um pagode? E como convencer alguém a ouvir Chico cantando ‘Cálice’, pensar em ditadura e no que isso proporcionou pra nossa própria história??

IN_Soma disse...

Fala Matheus, agradeço pela hospitalidade em receber meus comentários ;)

Confesso que não conheço os textos de Homero da forma como avaliou, mas acredito que toda a produção cultural, independente do grau de complexidade em que se apresenta, é uma amostra do momento em que foi criada e pode servir de objeto para estudos futuros.

Mas não acho correto também considerar o ápice da humanidade um momento em que a escravidão era formalizada, a mulher tomada como mero aparelho reprodutor e os cidadãos gregos que realmente podiam participar dos debates políticos era apenas um seleto grupo de algumas dezenas homens.

Não estamos em nenhum mar de rosas e também não constituímos o ápice dessa história humana, mas fazemos parte dela e podemos olhar para traz para tirarmos o que nos deixaram de vestígios para construir um futuro melhor e mais harmônico.

Abraços Pessoal