terça-feira, 24 de agosto de 2010

A alternativa

De Luis Fernando Veríssimo

Você eu não sei, mas quanto mais candidatos ridículos pedindo voto, mais eu gosto.

O ideal seria que todos os candidatos fossem sérios e capazes, apresentassem suas credenciais e seus programas de maneira convincente ou no mínimo bem articulada, e representassem alguma coisa além da sua própria ambição, ou seu próprio delírio. O ideal seria uma democracia perfeita, em que a escolha fosse entre os melhores. Mas uma democracia perfeita, como é inviável, está apenas a um passo de democracia nenhuma.

Os candidatos inacreditáveis que infestam os horários eleitorais com suas promessas malucas, suas caras assustadas e seus truques patéticos são, na verdade, guardiões da democracia possível. Sua existência garante que estamos salvos de qualquer pretensão ciceroniana a governos só de iluminados. Pense nisso na próxima vez que aparecer um candidato na TV pedindo seu voto porque é um bom filho ou um bom jogador de boliche. A alternativa ao ridículo é muito pior.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Estágio na Abelha Rainha

Se você é um diretor de arte em potencial e está interessado em estagiar numa das agências mais criativas do interior (oh!), mande seu portifólio para matheus@abelharainha.com. Obviamente, para esta área, softwares como photoshop, corel e ilustrator são imprescindíveis. Mas, os requisitos mais importantes são bom gosto, iniciativa e vontade de aprender.
OBS: É preciso estar na faculdade.

Lições do português

Hoje pela manhã bateu aquela saudade dos tempos de colégio. Nostalgia gratuita que, vez por outra, alimenta uma ilusão semi-esquecida: goma de mascar embaixo da cadeira, lápis no chão para contemplar a calcinha da professora, baladas no pátio embaladas ao som do violão Di Georgio e as aulas de português. Ah! Como eu gostava das aulas de português. Sempre admirei o que as palavras podiam mostrar, mas o fascínio maior era por aquilo que elas escondiam; que diziam sem dizer.


Apropriando-me da “parte pelo todo”, posso garantir que grandes lições foram e são ensinadas, mas não necessariamente aprendidas. Um dos equívocos mais comuns cometidos mesmo por alunos aplicados no passado diz respeito aos verbos. Amar, por exemplo. Somente conjugado no presente do indicativo, afirmativo, na primeira pessoa do singular. E sempre questionado em terceira. Cisma de que haja de fato essa terceira pessoa? Bem provável.

A transferência de atributos que este verbo vem sofrendo é, no mínimo, curiosa. Eu amo virou eu possuo. Te amo é você me pertence. Pessoas se tornaram objetos: diretos quando usados explicitamente e indiretos quando uso é dissimulado. Tudo para que o tal verbo não seja conjugado no pretérito, ainda mais no perfeito, que de perfeito nada tem.

Já o verbo respeitar é um tanto quanto paradoxal. Apesar de estar na pauta de muitas discussões, é inconjugável na maioria das situações.

Em conflito está o modo imperativo: não vai! Vou sim! Volta aqui! Volto nada! A conseqüência deste discurso é uma acentuada desobediência à concordância. A voz reflexiva até tenta consertar. Em vão. A ativa toma o lugar da passiva e vice-versa e o que resta é o silêncio cortante da incoerência.

O vocativo, antes esquecido e amparado pelas vírgulas, agora passeia soberano pela boca de quem ordena: Fulano, chega! Cicrano, pára! As coordenadas não têm mais vez. Foram engolidas pelas subordinadas. Subordinação que não se restringe apenas às orações, ramificando-se para os pronomes possessivos, os adjetivos mal empregados e, principalmente, para o sujeito, antes simples, agora composto. E, muitas vezes, por um fenômeno lingüístico, composto e oculto ao mesmo tempo. E essa regência imposta, sequer o Professor Paschoali é capaz de compreender.

Nem mesmo a conotação poética de algumas frases tais como “você é tudo para mim” ou “você é uma rosa”, consegue remendar erros interpretativos da vida afetiva. As figuras de linguagem, exceto a hipérbole e a metáfora, parecem ter se rebelado contra a coesão, derivando-se assim tempos e os modos primitivos, vigentes nesse tipo de envolvimento.

Se seguissem às orientações do velho Aurélio, alguns preceitos já seriam concebidos de forma diferente. Segundo ele, relacionamento é a ligação afetiva condicionada por uma série de atitudes recíprocas. Reciprocidade. Liberdade. Sufixos iguais, palavras complementares numa relação.

E, como a língua condena a exatidão, a verborragia aí de cima pode ser interpretada como convir ao leitor.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Oráculo do sexo?

Tem um louco pregando em praça pública sobre virtudes não muito usuais do sexo. E mais: convertendo pessoas.
Abaixo dois vídeos dele que se intitula o Oráculo do Sexo:



quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Por que a gente para?


Para de acentuar o verbo parar,
para de postar, de atualizar o blog?

Para de pensar, de agir, de sonhar?

Por que a gente para?

A gente para porque está sempre correndo.
Para porque está cansado ou 
porque as regras mudam, a vontade muda, 
as prioridades também.

Para porque se sente exausto.
Para porque não vale a pena.
Porque não há reconhecimento,
não há tapinhas nas costas,
não há nenhuma salva de palmas.

Para porque não tem estímulo,
porque falta combustível,
porque o sinal está vermelho.

Para porque tem preguiça,
porque quer tudo de mão beijada,
porque acredita na lei do mínimo esforço.

A gente para porque gosta de conforto,
não quer ralar, suar pra quê?

Por que a gente para?
Para porque acabou o desejo.

Porque encontrou o ponto final.
Porque chegou ao fim,
porque aquele é o limite.

Mas cadê a ponte? Cadê asas?
Por que a gente para?

Para porque tem outros desejos.
Porque a saúde se foi, o dinheiro se foi, mais um dia se foi.

A gente para porque não há mais tempo.
Mas por que a gente para?
Se o tempo, o tempo não para?