segunda-feira, 31 de maio de 2010

Viral da Nike: recordista de visualizações

A Nike não é patrocinadora da Copa, mas através de ótimos virais garante sua visibilidade. Escreva seu futuro, diz esse.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Escrever para que?

Raulzito, lendo seu texto, lembrei-me de um poema que fiz no final do ano passado:

PASSAGENS

I-

Se fosse capaz, não escreveria.
A luta contra o papel é desleal,
De um prazer repugnante.

Os advérbios sangram pela ferida da razão,
Os substantivos fogem às luzes da cidade.
Resta-me adjetivar meus sentimentos,
Torná-los intimamente públicos.

Secreção neural!

Palavras,
Donzelas, se não conquistadas,
São metastaseadas ao Mundo Inteligível.

Há quem não as use,
Sequer as sente,
Quem as violente.
Talvez por isso se façam desdenhosas,
Pois quem é esbofeteado não esquece.

Volto a dormir...
A página mais branca que a minha pele,
Mais preta que meus pensamentos!


II-

Escrevo com uma caneta sem tinta.

A transposição é quase cirúrgica:
Das idéias ao papel,
O caminho é pseudomental,
Sublingual,
Entremeado por infindas vicissitudes.

Escrevo com uma caneta sem tinta.

Como o marceneiro sem martelo
E o filósofo sem presunção,
Não sou!

Camufladas sob meus preconceitos,
Abrigadas da versofágica Racionalidade,
Palavras, palavras...

Escrevo com uma caneta sem tinta.
Por favor, dê-me um lápis!


III-

Se o que sinto não pode ser escrito,
Por que insisto?

Instinto?
Vício!

Com a espada sobre o pescoço,
Incansavelmente escrevo,
Inalcançavelmente escrevo!

De costas para a gramática,
Para a sintaxe, os morfemas e a ortografia,
Escrevo sem métrica ou rima.

O que importa
Se o pronome é oblíquo ou reto,
Se os versos são heróicos ou sáficos,
Quando se escreve asfixiado pela vida?

Escrevo...
Porque sou analfabeto,
Porque sou tu, nós, eles.
Porque sinto medo!

Escrevo...
Com sangue diluído às lagrimas;
Com as chagas da utopia;
Com o coração que ainda pulsa fora do peito!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Filosofia de segunda

A invenção da verdade denunciada por Nietzsche


Verdade! A musa a ser conquistada pela Ciência, pela Filosofia e, porque não por nós, pessoas comuns que no dia a dia tomamos-na como parâmetro para as nossas decisões, para rumar o nosso pensamento.

Mas, a verdade é real? É engendrada? Como ela nasce, afinal?

Questões como estas impulsionaram o jovem Nietzsche em sua pesquisa que culminou no breve, porém rico ensaio intitulado “Sobre a mentira e a verdade no sentido extra-moral”.

Antes, contudo, de analisarmos esse problema cabe uma breve contextualização de sua filosofia: Nietzsche é um pensador de combates. Suas obras são grandes máquinas de guerra prontas a destruírem o edifício lógico-moral, sustentado pelo platonismo e sua vertente ordinária, o cristianismo. Sua obra é escrita com “sangue e máximas”, marcadamente assistemática. A primeira grande “contradoutrina” de Nietzsche surge na pretensão de se opor à “metafísica racional” e instaurar a “metafísica do artista” que concebe a Arte como a atividade libertadora do homem; apenas a arte possibilita uma experiência da vida em sua plenitude. A Arte é o outro lado, um solo “extra”, “para além” da tradição filosófica e suas facetas lógicas e morais. Afirma Nietzsche: “A arte é a única força superior contraposta a toda vontade de negação da vida”.
Com estas curtas pinceladas, podemos partir para o problema da verdade.
Nietzsche começa afirmando que o intelecto humano é totalmente sem finalidade e gratuito perante o todo, frente à natureza. “Se pudéssemos entender-nos com a mosca, perceberíamos que ela sente em si o centro voante deste mundo”. Acreditamos que, por nosso intelecto, somos seres superiores. Mas ele é apenas um meio de conservação do homem, ser mais fraco, menos robusto, ao qual que está vedada a luta pela existência com chifres ou presas. O indivíduo, para conservar-se, para existir socialmente, precisa usar o intelecto. Precisa de um acordo de paz para que a “guerra de todos contra todos” desapareça de seu mundo. Esse pacto é o primeiro passo para o impulso à verdade, que nada mais é do que um tratado de paz. Concebendo a verdade como possibilitadora da vida social, Nietzsche chega a um primeiro contraste entre verdade e mentira: o mentiroso usa as designações válidas, as palavras para fazer aparecer o não-efetivo como efetivo; ele diz, por exemplo: ‘sou rico’, quando para seu estado seria precisamente ‘pobre’ a designação correta.

O que caracteriza ainda mais a verdade como uma criação puramente humana são as conseqüências advindas tanto da verdade como da mentira. O que o homem odeia é ser prejudicado tanto por uma, quanto por outra. Se o resultado da mentira é benéfico, então a verdade, em oposição, não é desejada e, até mesmo, repelida.

Central no texto “sobre a mentira e a verdade no sentido extra-moral” é a contraposição entre Metáfora e Conceito. Conceito, segundo a tradição, é o que define a substância. É ele que possibilita a descrição, a classificação e a previsão dos objetos cognoscíveis. O conceito, de modo geral, é a essência necessária, pela qual não pode ser de modo diferente. Para Nietzsche, a metáfora é a imagem do próprio mundo. Conceituar é congelar; é reduzir as muitas possibilidades a um único significado. Por um ato arbitrário de persuasão, ou seja, pela linguagem, introduz-se uma das muitas possibilidades da “metaforicidade” do mundo. Por trás disso, está a vontade de conservação, ordenação e pacificação, que não são naturais do mundo.

“Todo conceito nasce da igualação do não igual. Uma folha nunca é igual outra folha e, no entanto, o conceito de folha abandona arbitrariamente essas diferenças, essas individualidades e desperta a representação da folha, uma espécie de folha primordial, segundo a qual todas as folhas são tecidas.
Dividimos as coisas por gêneros, designamos a árvore como feminina e o vegetal como masculino. Que transposições arbitrárias! Que preferências unilaterais ora por esta, ora por aquela propriedade do objeto.”

A verdade nada mais é do que um batalhão de metáforas, metonímias, antropomorfismos que, após um longo uso, parecem sólidas, canônicas, obrigatórias. As verdades são ilusões, são conceitos que se esqueceram da sua origem metafórica.
O homem, falando a verdade, mente da maneira designada, inconscientemente e segundo hábitos seculares. Justamente por esse esquecimento, chega ao sentimento de verdade.
Quem está contaminado pela frieza dos conceitos, dificilmente acreditará que até o conceito aparentemente mais verdadeiro, como ósseo, por exemplo, não passa de um resíduo metafórico.
Eis a imagem: a verdade é como alguém que encontra um tesouro atrás de um arbusto. Tesouro este que ele mesmo escondeu. Defino o camelo como animal mamífero e, depois de inspecionar um camelo declaro: Vejam, um animal mamífero! Informação antropomórfica sem um único resquício de verdade!

Criticando a verdade, Nietzsche nos mostra a decadência de uma sociedade cientificista. Esta confiança ignorante nos preceitos e valores científicos constitui-se na negação do que o homem possui de mais humano. E, por negar sua humanidade, Nietzsche diagnostica o homem moderno como doente, propondo a arte como um medicamento capaz de levar a cura.